segunda-feira, 11 de abril de 2011

A dentada

Só queria esvair-se em sangue. Fazer-se explodir num só grito e acabar ali com a história sem fim.
Qual liberdade tida em pensamento, prisão atrelada a um corpo de onde se esqueceram o paradeiro das chaves de fuga.
Na calma da demência, no último fôlego, só queria agarrar de mãos cheias naquelas palavras de outros e tantos que a querem livre. Encaixotá-las num saco de pano que mastigaria com vontade, degustando cada sabor de tais palavras que de tantas são só uma, e vomitar essa consciência de voo.
E no seu sangue apenas escorrem as palavras dele, deturpando-lhe o respeito e mirrando-lhe cada víscera, reduzindo-a a pó que snifa com prazer. E diz-lhe ser demente. E tem-se ela, à porta da demência. Chama-a e ela dilui-se em nadas escorrendo no caminho até ele. Que a bebe! Que a come! Que a suga! E defeca-a, de novo para a ter!
Mais mastigada que osso duro de roer. Mais cremada que cinzas no vento. Mais fóssil que anos da Terra, tenta a custo refazer-se do desgaste a se lhe propôs. E quando acorda do cansaço da refeita sente-se fraca para mais um dia. E só a nova dentada dele lhe recorda que está viva.

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